A
idéia de fazer um clipe surgiu quase ao mesmo tempo que surgiu a música.
Em meados de 1997, enquanto fazíamos a compilação de
sons que mais tarde viraria a "Video Computer System", ficamos impressionados
com a simplicidade gráfica que os jogos de Atari mostravam. Todos se
lembram da época, víamos um quadrado e tínhamos que imaginar
que aquilo era uma bola de basquete. Mas ver, anos depois, com um olhar adulto
foi bem diferente. As composições, as soluções
brilhantes de representação. Era incrível como com tão
pouca tecnologia e possibilidades se conseguia fazer algo ao mesmo tempo criativo
e eficiente. Claro que haviam exceções, mas de maneira geral,
não podíamos negar o pioneirismo do design dos jogos de Atari.
E a idéia do clipe permaneceu timidamente em nossos atonais cérebros
3 years later....
É claro, nem precisamos dizer que tudo aconteceu poucos dias antes
de vencer o prazo de inscrição para concorrer ao Video Music
Brasil 2000 da MTV.
Foi quando 4 loucos "motion-graphics designers" da Lobo, produtora
de vídeo e "design bureau" localizada em São Paulo
resolveram assumir nossas dores. Propuzemos timidamente a criação
de um clipe que seria uma releitura de alguns jogos de Atari. Os caras chaparam
e compraram a idéia [e pagaram muito bem, obrigado].
Eles estavam já na época do nosso convite completamente atrapalhados
com outro videoclipe de um grupo musical pop e sabiam que mais um trabalho
ia fazê-los abrir mão totalmente de suas vidas por pelo menos
15 dias. Namoradas, horas normais de sono, cineminha... tudo seria "abstraído"
em função dos clipes.
Mesmo assim eles toparam.
Nos intervalos de sofrimentos auditivos provenientes da cantoria do tal grupo
pop, então, passamos a nos encontrar para discutir melhor o nosso clipe.
Após algumas reuniões recheadas de boas risadas e frases do
tipo "não vai dar tempo nem fudendo" começamos a concluir
o "storyboard".
A partir daí, a música "Video Computer System" passou
a ser analizada, nota a nota, som a som. A sua própria estrutura nos
ajudou a criar uma sequência interessante e interligada com a música.
Isso para nós era essencial.
Começamos então a produção do video. Encaramos
uma das partes mais divertidas e ao mesmo tempo estranhas de todo o processo:
jogar o maior número possível de jogos de Atari, mas sob o ponto
de vista técnico: cores, animações, formas, etc.. Toda
a pesquisa foi feita com um emulador de Atari rodando mais de 500 jogos no
Mac, um a um.
Enquanto isso já decidíamos os cenários, figurinos, personagens,
naves, enfim, todos os itens que iriam compor mais tarde as animações.
Tudo isso foi feito no Photoshop, depois de um delicado estudo de relações,
proporções e comparações da antiga tecnologia
Atari com os atuais computadores.
Enfim começamos a animar, tentando sempre entender o raciocínio
dos velhos jogos. Com toda a animação feita em Adobe After Effects,
editamos o material.
Já neste ponto tínhamos apenas algumas horas para finalizar
tudo e entregar a tempo de concorrer ao VMB. Bom, é claro que varamos
mais noites ao som do tal "inventivo" grupo pop que, obviamente,
também queria concorrer ao VMB, o que deixava a situação
cada vez mais periclitante..
Conseguimos, enfim, entregar o clipe 1 hora antes do prazo vencer.
O resto todos conhecem: conseguimos ser indicados na categoria "música
eletrônica" do Video Music Brasil 2000 da MTV, concorrendo com
nomes como Ramilson, M4J, Flu e Xerxes.
A indicação já foi uma grande surpresa, mas a vitória,
com certeza, foi absolutamente inesperada. Não fizemos nenhum tipo
de propaganda, nem festas para promover o clipe... nada. E conseguimos.
Graças aos diretores Carlos Bêla, Guilherme Marcondes, Mateus
de Paula Santos e Mário Sader, à galera que viu o clipe na MTV
e à moçada que conheceu o GOLDEN SHOWER graças à
Internet.
Viva o MP3! Viva a Lobo!
VALEU!!
E o tal grupo pop? Bem, eles nem sequer foram indicados ao VMB...
Pena!