m2b : Um texto Golden Shower


Ontem de tarde passei no centro para comprar uns disquetes. Tinha que fazer umas cópias dos arquivos mais importantes aqui do Cláudio, que é como se chama o computador em que trabalho. Levei três caixas, mas não precisei de tantas. Engraçado que quando eu já tinha dobrado a esquina para seguir meu caminho de volta, encontrei com um camarada de longa data. Fomos colegas no final do primeiro grau, parece que ele era do basquete também. Sim, claro, ele jogava, a gente até pôde, uma vez ou outra, usar a quadra da antiga Brigada Militar, o pai dele é da corporação. Agora são os bombeiros que estão ali, não é mais BM.


Esse cara, me lembro, tinha um Atari. Eu nunca tive um. Nem o outro, aquele, que tinha o joguinho dos Trapalhões. Então, eu tava com os disquetes na sacola, e tive que trocar de mão, para cumprimentar o tal, que não via há muito tempo. Vê só, em vez de ir na casa dele, afinal era meu amigo, não, fiz o mais difícil. Convenci o cara a trazer o Atari dele aqui, instalar tudo etc., para a gente jogar. Que coisa. E o pior é que não foi por mais de uma hora, o troço esquentou e mal e mal teve graça.


Computador é outra coisa que nunca apareceu por estas bandas. Tinha aqueles ‘m’ não sei o quê. A primeira vez em que eu vi um disquete achei que era sacanagem. Não me lembro se já era igual a esses de hoje, mas sei que estranhei. Pouco antes de rever o meu amigo e quase perguntar se ele ainda tinha o Atari, tinha lá uma carrocinha dessas de churros. Que merda, não consigo me lembrar quando foi a primeira vez que comi um churro. Não me lembro da última, também, na real não gosto muito, bom é o doce de leite, o resto sempre é muito gorduroso.


O carinha que tinha o disquete é meu amigo até hoje, também. Ele era um dos que rachavam a compra das revistinhas de sacanagem. Coisa de guri. Ainda tinha graça olhar bunda de mulher em revista. Afinal, fora de manhã, nos programas que passavam, bunda de mulher não tinha tanto por aí. Ou então era a gente que não via. Ou elas que não nos mostravam. Ah, sei lá. Sei que era divertido. Sempre ouvi falar que as coisas muito de mão beijada não têm graça. Era uma luta carregar aquele monte de pasta só para esconder as revistas. Pelo menos dava para olhar na aula, de vez em quando, e as professoras achando que a gente tava concentrado. Bom, concentrado a gente tava, só que em outra coisa.


Numa dessas excursões aí, uma professora nos viu analisando a genitália de uma menina, na foto, sem dúvida. Puxa, foi uma confusão. Ela até pediu o telefone do papai e da mamãe. Sacanagem, devia ter ligado. Fiquei me borrando todo uns quantos dias, e nada dela ligar. Não ligou até hoje. Por que pediu o número, então? Um outro camarada, que tinha sido flagrado junto, contou a história pro pai dele, que era na boa, baita tirador de sarro. Dois ou três dias depois, peguei uma carona pro basquete com eles. Putz, primeira coisa que fala o pai dele: ‘E aí, m2b, mudou de leitura?’

Mudar, não tinha mudado, porque ler também não lia. Também não sabia o que era xixi dourado. Hoje eu sei. Perguntei pra uma outra menina, mais feia que aquela que estávamos olhando quando fomos flagrados pela professora, se ela sabia o que era xixi dourado. Ela disse que não. Ficou horrorizada quando contei. Não gosta de música eletrônica. Disse que não queria mais que eu escrevesse xixi dourado. Eu não queria fazer xixi dourado nela, só queria saber se ela sabia o que era. Eu nem teria como fazer xixi dourado, tomo muita água, meu xixi é transparente.

 

Marcos Beck Bohn
m2b@tijolao.cjb.net

Ler não é ver televisão
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